15 junho 2009

Máscaras do dia-a-dia

Pessoas que não se conhecem têm medo de mostrar como são verdadeiramente por medo de não serem aceitas. A sociedade sempre colocou no decorrer da história valores “fundamentais” para a vida das pessoas – você precisa ganhar dinheiro, ter um carro e uma casa bonita, uma família perfeita, e principalmente “ser bonito” de acordo com os padrões estéticos por ela definidos –, por isso na maior parte das situações ao invés de permitir nos conhecer, temos medo de não se enquadrar no perfil e nos empenhamos em pintar uma mascara que nos deixe o mais parecido possível com o que “as outras pessoas” querem que sejamos. Esquecemos que somos especiais justamente por ter particularidades que tornam cada ser singular e único.
Poucas são as pessoas que tem o privilégio de conhecer verdadeiramente a essência de uma pessoa, aquilo que fica atrás das mascaras, das formalidades, das atitudes motivadas pelo medo da rejeição. Isso normalmente acontece quando uma das partes é corajosa o suficiente para ser a vidraça e se colocar para a outra parte sem interferência de qualquer referencial externo, considerando apenas os seus sentimentos e percepções. Isso acontece com irmãos, pais e filhos, melhores amigos, namorados, em casamentos, com os nossos melhores relacionamentos. Quando isso acontece os laços criados são tão fortes que passamos a contar com aquela pessoa para o resto da vida.
Más se as pessoas que nos conhecem de verdade nos amam, nos querem bem, nos admiram, porque o medo de não ser aceito ainda é tão grande dentro de cada um de nós?
Acho que a resposta é diferente para cada pessoa, e tem muito haver com a bagagem que cada um carrega no decorrer da vida, como diria Lya Luft:
As ferramentas para executarmos a tarefa de viver podem ser precárias. Isso quer dizer: algumas pessoas nascem mais frágeis que outras. Um bebê pode ser mais tristonho do que seu irmão mais vital. Não é uma sentença, mas um aviso da madrasta Natureza. O meu diminuto jardim me ensina diariamente que há plantas que nascem fortes, outras malformadas; algumas são atingidas por doença ou fatalidade em plena juventude; outras na velhice retorcida ainda conseguem dar flor. Essa mesma condição é a nossa, com uma diferença dramática: a gente pode pensar. Pode exercer uma relativa liberdade. Dentro de certos limites, podemos intervir. Por isso, mais uma vez, somos responsáveis, também por nós. Somos no mínimo co-responsáveis pelo que fazemos com a bagagem que nos deram para esse trajeto entre nascer e morrer. Carregamos muito peso inútil. Largamos no caminho objetos que poderiam ser preciosos e recolhemos inutilidades. Corremos sem parar até aquele fim temido, raramente nos sentamos para olhar em torno, avaliar o caminho, e modificar ou manter nosso projeto pessoal.
Acredito que não exista uma poção mágica que seja tomada para resolver tudo. Mas sei que a partir do momento que atingimos maturidade suficiente para se olhar no espelho, e enxergar de verdade e sem idealizações a imagem refletida, estamos prontos para fazer as nossas perguntas e se aventurar pela nossa história na busca por cada resposta.

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