21 junho 2008

Pafúncio e Socrates

O post dessa semana é um dialogo interessante entre Pafuncio, o mentor de socrates, e o proprio Sócrates. Percebe-se claramente no decorrer da leitura que o texto é moderno e não poderia ter sido escrito naquela época, além de não existir nehum relato histórico que comprove a existencia de textos escritos por um ou outro. No entando é uma leitura no mínimo interessante, e está entre os meus preferidos. Boa leitura.


- Oh grande Mestre! Muitos foram os pensadores, filósofos, e eruditos de todos os tempos a discutir o tema da felicidade. Tu que és considerado o mais sábio de todos, diga-me: Qual o segredo para a felicidade?

- Oh grande Jumento! Não existe nenhum segredo para a felicidade, e muito menos felicidade. Felicidade é um conceito que se assemelha a um homem de 7 metros de altura, ou seja, só existe na imaginação humana. O que existe são momentos de alegria, momentos de prazer, momentos de entusiasmo. Porém, momentos assim, não são, nunca foram, e nunca serão constantes nesta dimensão. Pois que, durante nossa existência, quer sejamos homens, ou mesmo animais, além dos momentos de alegria e prazer, sempre haverão, também, momentos de tristeza e dor. Sendo assim, enfie esta máxima dentro deste teu melão: “Felicidade constante não existe”.

- Más já que a felicidade não pode ser alcançada nesta dimensão, por acaso existem meios que possam diminuir nossos sofrimentos?

- Logicamente que sim! Até porque a maioria dos sofrimentos humanos são elaborações que eles mesmos inventaram, e que continuam inventando e reinventando. Existem sofrimentos que são mais difíceis de serem previstos e evitados, que são os sofrimentos físicos ou biológicos, tais como: dores, doenças, lesões, fraturas, e mal-estares. Agora, quanto aos sofrimentos psíquicos e emocionais, estes podem ser facilmente previstos e evitados, e até mesmo, totalmente eliminados.

- Então diga-me: como eliminá-los?

- Não existe nenhuma fórmula mágica que possa ser aplicada a todos os casos. No entanto, posso dizer que podemos eliminá-los com a utilização de nossos conhecimentos, com a sabedoria. Para isso basta pensar a coisa certa, na medida certa e nos momentos certos. E depois, fazer a coisa certa, na medida certa e nos momentos certos. Os sofrimentos psíquicos e emocionais somente existem como uma espécie de sinalização, que nos alerta de que: nós estamos pensando a coisa errada, na medida errada e nos momentos errados; e também, que estamos fazendo as coisas erradas, na medida errada, e nos momentos errados. Por isso as pessoas sofrem! Em virtude disso é que as pessoas não se sentem bem durante a maior parte do tempo.

- Então grande parte dos sofrimentos humanos são decorrentes das interpretações errôneas que estes fazem da realidade?

- Não diria errôneas! Mas sim, de certa forma, meio que masoquistas!

- Então as pessoas sofrem porque querem sofrer?

- Mas como você é atrasado! Só o fato de tu utilizares esse jargão popular: “as pessoas sofrem porque querem sofrer”, já é uma evidência de que o teu caso é grave, de que a tua ignorância é imensa. Nem parece que tu és uma pessoa que estuda, que lê diversos livros ao invés de ficar na frente de uma janela (televisão), ou então, em rodinhas de conversas frívolas sobre gladiadores (futebol) ou fofocarias sobre a vida dos outros (novelas), sendo infectado com imundícias deste quilate. Cai na real meu caro! Você acha mesmo que alguém sofre porque quer sofrer? Quem em sua sã consciência almejaria tal tipo de coisa? O que na verdade ocorre é que as pessoas nem isso sabem. Não sabem que através do estudo e da meditação elas poderiam ser bem mais felizes.

- Não te entendo! Primeiro você diz que felicidade não existe, e agora diz que as pessoas podem ser mais felizes. Poderia explicar isso melhor?

- Acho que o problema não é a minha explicação. Minha explicação foi tremendamente clara e objetiva. É você que deveria prestar mais atenção. Por acaso eu disse que ao estudar as pessoas seriam felizes? Claro que não sua anta! Eu não disse que as pessoas poderiam ser felizes, nem plenamente felizes, mas sim: muito mais felizes. Captou a diferença ou ainda esta difícil o anta?

- Desculpe-me! Sou mesmo uma anta!

- Sim! És mesmo uma anta! E o pior é que o mundo está repleto de antas ainda piores que tu. Antas que não lêem, não estudam, não raciocinam, não questionam as coisas. Elas apenas repetem aquilo que ouvem como se fossem verdadeiros papagaios. Elas pensam 7 minutos sobre determinado assunto e já saem distribuindo suas conclusões e seus palpites furados. Elas nunca pararam para pensar que, em um livro, por exemplo, podemos entrar em contato com as experiências, raciocínios e conclusões de outra pessoa. Elas nunca pararam para pensar que um único livro pode representar os esforços de mais de 20 anos de pesquisas e experiências de alguém. E sabe o que isso significa? Pois significa no mínimo economia de tempo! Significa que tu não precisará investir 20 anos da tua vida para chegar a conclusões semelhantes as que ela teve. Isso se é que em 20 anos tu conseguirias concluir o que tal pessoa concluiu. Pois que, um livro geralmente é baseado na leitura de diversos outros livros. E diversos outros livros podem significar diversos outros 20 anos de esforços e experiências de diversas outras pessoas. Compreendes agora a importância da leitura?

- Sobre a questão dos sofrimentos. Tenho a impressão de que a maior parte do sofrimento humano é decorrente de algum tipo de perda. Por exemplo: quando elas perdem algo material, perdem seus empregos, perdem seus familiares, etc. O que tu poderias falar sobre isso?

- Realmente! E esse é o maior exemplo de que muitos dos sofrimentos humanos são decorrentes da pura ignorância de conhecimentos tremendamente básicos. Ora, vivemos em um mundo dual, onde tudo tem um início e um fim. Nada aqui dura pra sempre. Tudo o que existe um dia deixará de existir. E isso é válido tanto para coisas quanto para animais e pessoas. E isso é algo tão óbvio, que somente pessoas com algum “distúrbio mental” acreditariam que isso não é assim, ou que poderia deixar de ser assim. Pois que, a vida é, sempre foi, e sempre será assim! Aqui nada dura pra sempre! Pelo menos nesta dimensão é assim! E se é nesta dimensão que estamos, é isso que devemos sempre levar em consideração! Caso preferimos “nos sentir bem”, é claro!

Agora, por mais óbvio que seja esta afirmação (de que tudo acaba), talvez tu te surpreendas ao saber que a grande maioria dos “ocidentais” desconhece esta verdade tão básica da vida. Sim! Isto é algo que eles até conhecem, mas que, ainda não compreenderam direito. Ora, certamente que, “de vez em quando”, eles lembram que tudo tem um início e um fim. Porém, a “cultura ocidental” nunca permitiu ao “homem branco” assimilar este conceito da “impermanência das coisas”. E, é em razão disso que ainda vemos tanta ignorância, tanto fanatismo e tanto sentimentalismo no mundo.

- Então você crê que os nossos sentimentos não são importantes?

- Seu asno! Não confunda sentimento com sentimentalismo! Nem a diferença entre estes conceitos tão básicos tu sabes? Diga-me: o que tu andas fazendo com o precioso tempo em que tu perambulas por este planeta? Queres mesmo continuar sofrendo a toa, ou então, sendo mero escravo de pessoas mais burras que tu?

- Lógico que não!

- Então trate de estudar tudo aquilo que é básico! É necessário que tu não mais ofereça teus pulsos, tua consciência e tua alma para as algemas da ignorância que diariamente se apresentam em teu caminho. Preste mais atenção às imagens que teus olhos captam, e aos sons que teus ouvidos ouvem, para que assim tu deixes de exalar este odor mental desagradável.

- Desculpe-me! É que não sei mesmo a diferença!

- Pois então trate de saber algo. Preste atenção, pois isto é importante: Sentimento diz respeito a uma certa sensibilidade que nos permite perceber e considerar os valores que as coisas representam para nós. Já o sentimentalismo é o exagero disso. Sentimentalismo é sempre decorrente de algum tipo de paixão. E a paixão sempre nos faz exagerar o valor que as coisas possuem. A paixão nos faz considerar que algo seja “um tudo”, enquanto que nós mesmos, e tudo o mais que existe, tornam-se “um nada”. Podemos dizer que paixão seja uma espécie de sinônimo de ignorância, e, que sentimentalismo seja uma espécie de sinônimo de loucura. Agora, sentimentalismo é algo muito inútil! Pois, você pode, por exemplo, até ficar magoado pelo fato de algo não ter saído como você gostaria, que, ainda assim, as coisas continuarão na mesma. Você pode se auto-punir, gritar, praguejar, espernear, pelo fato, por exemplo, de algum familiar ter falecido, que nem assim, você será capaz de fazer com que o defunto se levante de sua cova.

Ora, neste momento temos a nossa volta uma porção de pessoas, as quais nós podemos tratá-las bem, tratá-las mal, ou então, das mesmas nem mesmo nos aproximar. Pois afinal, existem bilhões de pessoas no mundo. E é neste momento presente – “neste agora” - que nós podemos levar os nossos sentimentos em consideração, para fim de vivenciar junto com estas pessoas tudo aquilo que nós gostaríamos, e que elas também gostariam. Porque depois, quando as pessoas viram “defunto”, não serão os sentimentalismos que resolverão as coisas. Pois que, de nada adianta levar flores para um quadrado de cimento. De nada adianta empapar o travesseiro com baba e choradeira. Depois não adianta declarar pras paredes que admirava a pessoa. E muito menos confessar a uma foto de papel que amava a pessoa. Pois quem ama mesmo, quem admira mesmo, demonstra isso durante a vida. Algo semelhante ao que é dito naquela música que irão inventar com base naquilo que lhe direi agora: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

- Considerando isso que você fala, as coisas até parecem simples. Porém, o que ocorre é a vida da gente é muito tumultuada, temos tantas coisas pra fazer e tantas coisas com o que nos preocupar, que nem sempre podemos dar a devida atenção às pessoas de que gostamos.

...

Agora me responda uma coisa, o que ocorre é que nem sempre podemos decidir com o que ocupar nosso tempo. Sendo assim, como podemos nos libertar da culpa, pelo fato de não podermos estar dando a devida atenção às pessoas de que gostamos?

- Bem, a segunda coisa que tu deves considerar é que tu és um ser ignorante. Tu és um ser que ainda está em evolução. Certo? E se é assim, tu não tens culpa de nada! Ninguém tem culpa de nada! Apesar do fato de que a maioria das pessoas, ainda hoje, não tenham atingido o nível evolutivo em que estes poderiam ser classificados como verdadeiros seres humanos, uma vez que consideram “as coisas” como sendo mais importantes que “as pessoas”, ainda assim elas não tem culpa de seu atraso, de sua animalidade. Todos estão aqui nesta dimensão para aprender. Aprender através de erros e acertos. Aprender a dar o devido valor a cada coisa. E, podemos dizer que, é exatamente em razão disso que uns nascem cegos, e que outros ficam cegos; que uns nascem surdos, e que outros ficam surdos; que uns nascem pobres, e que outros ficam pobres; e assim por diante. Apesar do fato dos homens acreditarem que tais tipos de coisas ocorrem de forma aleatória, à verdade é que jamais algo ocorreu de forma aleatória. E, em razão disso hoje estamos aqui, sob este planeta, flutuando no espaço. Entenda que ninguém aqui está simplesmente perdendo tempo. Por mais marginal, terrorista, fanático ou ignorante que uma pessoa seja, ainda assim, ela está passando por aquilo que ela deveria passar. Os familiares de tal pessoa também estão passando por aquilo que deveriam passar. E o mesmo se pode dizer com relação à sociedade e as possíveis vítimas de tais pessoas. Pois, a realidade é, e sempre foi, uma criação social. Não existe culpado! Existem responsáveis! Agora, entenda isso como quiseres! Pois é esta a realidade! E é dentro desta realidade que nós somos obrigados a aprender algo! Agora, também é preciso que fique claro que, há duas formas de aprendermos aquilo que nós temos que aprender aqui: uma delas é através do estudo, e a outra é através do sofrimento...

...

- Quer dizer então que tudo o que nos ocorre sempre possui alguma finalidade?

- Sim! E esta finalidade está muito aquém de tudo aquilo que o homem pensa, já pensou e até mesmo irá um dia pensar.

- Nossa! Quanta coisa básica e óbvia estes “homens brancos” não se dão conta não é mesmo?

- Pois é! Agora, o que é mais incrível, é que por mais simples e bem explicado a gente possa demonstrar tudo isso, ainda assim, creio que nem 10% das pessoas são capazes de entender o que a gente diz. Daqui a 24 horas, talvez menos de 1% lembre algo sobre o que lhes foi dito. O que dirá então colocar em prática tais tipos de coisas! O pessoal está em verdadeiro estado de transe! Estão tremendamente preocupados com coisas tremendamente sem importância. Como se a preocupação os levassem a algum lugar! Além disso, as pessoas são muito apegadas as suas personalidades desta vida. Elas acham que elas são e sempre serão aquilo que está impresso em sua certidão de nascimento ou carteira de identidade. Elas acreditam que a vida nada mais é do que este teatro de vaidades. Elas acreditam que tudo aquilo que elas possuem lhes pertence. E o pior: também acreditam que podem possuir pessoas. Porém, como já foi expresso aqui das mais variadas formas: aqui nesta dimensão tudo é transitório. E é preciso não mais esquecer isso: que tudo, absolutamente tudo, passa! Aqui nesta dimensão; aqui na via Láctea, sob este planetóide insignificante; aqui neste período histórico de tempo em que convivemos com esta cambada de idiotas confusos, e que pertencemos a tal país, a tal família, a tal classe social, etc. Tudo isso passa! E que bom que passa! Pois se não passasse nós agora não seríamos “quase seres humanos”; seríamos ainda animais; ou brutamontes das cavernas; ou medievais piromaníacos estúpidos. Enfim, seríamos ainda piores do que somos hoje. E esta é a vantagem das coisas passarem! Pois a passagem do tempo permite a evolução! E, além disso, rotina é algo tremendamente fastidioso, não é mesmo?

1 comentários:

L.S. Alves disse...

Texto longo pra internet, mas valeu a pena ir até o fim. Muitos ensinamentos condensados em um diálogo jocoso. Gostei. Obrigado pro compartilhar.
Um abraço.